Nos primeiros tempos não falávamos muito. Queres comer; Tens sede. Apenas se falava sobre o que concorria para a sobrevivência do corpo. Sempre que não tínhamos ninguém em nosso redor, o que acontecia duas a três vezes por semana, a boca tinha funções mais importantes e urgentes do que a fala. A fala era prescindível. Quando Armindo pedia o meu corpo, deixava os dedos deslizarem pelos meus flancos abaixo. Tinha mãos fortes e ágeis, instruídas e persistentes, que só desistiam quando me faziam largar um gemido. Eu começava a tremer, a boca era inundada por uma torrente copiosa de saliva, a pele do rosto e do torso inflamavam-se e tornava-se tórrida e extremamente sensível, capaz de captar a mínima oscilação da temperatura. Encostava os quadris às minhas nádegas e arfava no meu pescoço, entre a orelha e a clavícula, encrespando-me a pele.
«Nunca conheci ninguém como tu...»
«Aposto que o dizes a todos os homens com quem já foste para a cama...», disse ele, com o rosto munido de um ar sério.
«És mesmo parvo!», respondi-lhe depois de levantar o rosto do seu peito e de lhe ver a comissura dos lábios estremecerem. esforçando-se por conter uma gargalhada eminente.
Uma certeza que guardo até hoje: No caso de não ter ido para a cama no fim da noite em que o conheci, jamais me teria envolvido com o Armindo. Eu lera o Banquete e o Fédon. E ao ver o Armindo pela primeira vez tive a sensação de que já nos conhecíamos, talvez desde um tempo anterior ao nosso nascimento. Uma grande banalidade. Mas a paixão é pródiga em discursos banais que soam como verdadeiras epifanias. A paixão assemelha-se à poesia na forma como ilumina evidências que passam despercebidas na mesmice dos dias.
Só começámos a falar três meses depois de nos conhecermos, uma noite de domingo, no fim de termos aplacado o egoísmo com que fazíamos amor, pois o nosso sexo era egoísta, como se soubéssemos que deixaria de nos satisfazer no dia em que nos preocupássemos com o prazer um do outro, Armindo aproveitou a escuridão evidenciadora dos corpos para me sussurrar:
«Assusta-me o dia em que vais acordar convencido de que a paixão acabou.»
Enganara-me. Armindo não era forte. E eu sempre soube que só seria capaz de amar um homem que esconde a vulnerabilidade atrás de uma couraça deixando, porém, vislumbrá-la por momentos quase imperceptíveis. Também soube que a paixão acabara naquele momento. Ele também o soube.
Na manhã seguinte. depois de vir da loja de conveniência onde foi buscar pão e leite, pediu-me para que fechasse os olhos. Pegou-me na mão e atou-me algo em redor do anular.
«Podes abri-los!»
O atilho plastificado que fechara o saco do pão fora transformado em anel.
«Tenho muito espaço vago no roupeiro e no armário da casa-de-.banho.
Era uma aliança.
Só começámos a falar três meses depois de nos conhecermos, uma noite de domingo, no fim de termos aplacado o egoísmo com que fazíamos amor, pois o nosso sexo era egoísta, como se soubéssemos que deixaria de nos satisfazer no dia em que nos preocupássemos com o prazer um do outro, Armindo aproveitou a escuridão evidenciadora dos corpos para me sussurrar:
«Assusta-me o dia em que vais acordar convencido de que a paixão acabou.»
Enganara-me. Armindo não era forte. E eu sempre soube que só seria capaz de amar um homem que esconde a vulnerabilidade atrás de uma couraça deixando, porém, vislumbrá-la por momentos quase imperceptíveis. Também soube que a paixão acabara naquele momento. Ele também o soube.
Na manhã seguinte. depois de vir da loja de conveniência onde foi buscar pão e leite, pediu-me para que fechasse os olhos. Pegou-me na mão e atou-me algo em redor do anular.
«Podes abri-los!»
O atilho plastificado que fechara o saco do pão fora transformado em anel.
«Tenho muito espaço vago no roupeiro e no armário da casa-de-.banho.
Era uma aliança.
A paixão é sempre efémera, mesmo que prolongada...
ResponderEliminarÉ um estado necessário, mas não suficiente para alcançar algo mais importante.
Detesto estar apaixonado!
coitada da paixão, sempre a levar porrada. engraçado que ninguém lhe chama nomes feios quando está apaixonado
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