segunda-feira, 12 de março de 2012

B Bar (intro # 9)

O telefone tocou já depois das quatro da madrugada, quando acabava de fazer a cama de lavado. Pablo não tinha saído há dez minutos e o Armindo devia estar a ligar o alarme do B. e a pôr-se a caminho de casa. 

Uma chamada a meio da noite não prenuncia boas noticias. Pensei nos meus pais.

«Estou sim.» Disse depois de desembaraçar o nó que me estrangulava.

«O senhor António Q. está?»

«Sim, sou eu.»

«Senhor Q. fala da policía...»

«Da pol...»

«Aconteceu um crime.»

«Um crime?! Aconteceu alguma coisa aos meus pais.»

«Com os seus pais?! Não, senhor. Ao que tudo indica, não foi com os seus pais.»

«Então, com quem?» Mas já sabia. 

«Conhece um homem chamado Armindo F.?»

«Sim. É meu companheiro. Como é que ele está?»

«Não lhe sei dizer. Pediram-me que o avisasse de que um carro ia buscá-lo.»

A campainha tocou.

«Vou já. Vou já para aí...» Deixei cair o auscultador.

Saí do apartamento, desci as escadas a correr. Defronte do edifício, estava uma viatura da PSP. No tecto piscava uma luz azul.

«O que é que aconteceu? Como é que ele está?»

«Não sabemos. Recebemos ordens para vir buscá-lo. Apenas isso.»

Nunca demorei tão pouco tempo a chegar ao B. Uma multidão concentrava-se no passeio oposto, do outro lado da barreira levantada pela PSP. Levaram-me para o interior do B. havia policias e agentes da PJ por todo o lado. Não vi o Armindo.

«Onde está ele?» Perguntei a um agente à paisana, que não me deixou entrar na cozinha. Mas vi-o logo. Primeiro as pernas, num ângulo impossível, depois o sangue empapando a camisa e por fim a cara. Metade do rosto tinha desaparecido.

«Reconhece a vítima?»

Fiz que sim.

«Partilhava o apartamento consigo?»

Voltei a fazer que sim.

«Tudo leva a crer que terá sido um assalto a que o senhor Armindo F. tentou resistir.»

O meu rosto estava lívido.

«Quer sentar-se?»

Fiz que não.

«Mas também pode ter sido apenas uma forma de disfarçar um crime de ó... O senhor está a sentir-se bem?»








2 comentários:

  1. como já deves ter reparado, a continuação é 1 anti-climax. Agora seguir-se-à a mesma história contada por outros narradores (1 por cada capítulo) o turn of the screw está guardado para o fim, quando é a vez de Armindo falar...

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