quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

B bar (intro #4)

«Não tenho paciência para essas tontas que parecem ter visto pornografia demais e são incapazes de conceber a hipótese de que o sucesso é alcançável por quem não é jovem nem padronizadamente belo», dizia Armindo, quando o dia, ainda fosco, ameaçava entrar através das frinchas dos estores mal fechados. «São todos muito cultos, muito cosmopolitas e, depois vamos a ver, são tão preconceitosos quanto alguém que nasceu, viveu e morreu sem sair da sua aldeia; aliás, são bem piores, porque têm todas as oportunidades para estarem expostos à diferença, até de uma forma inadvertida, e, se o quiserem, podem dispor-se a entender tudo o que foge aos conceitos do rebanho, mas não, não é isso que se passa, preferem lançar-lhes o seu sorrizinho sarcástico e o olharzinho desdenhoso. No entanto, não foi só isto que fez esgotar a minha paciência.

»Até sinto simpatia e solidariedade por aqueles que resolvem assumir, no quotidiano, os seus maneirismos; ainda que a visão de tais comportamentos me provoque uma súbita impotência, acho que é uma atitude de quem os têm no sítio. Agora aqueles cidadãos anónimos que, mal vêem a estátua do Camões, desatam a esbracejar como galinhas... não há pachorra. E aqueles casalinhos que só o são no Bairro Alto fora de horas? Todos esses merecem o meu menosprezo.

»Não precisas de dizer nada. Queres dizer-me que a minha conversa também é a manifestação de uma mente preconceituosa. Tens razão, e já não tenho idade, nem vontade, para mudar. Não vamos a lado nenhum se continuarmos a ser uns santinhos nem a dar a outra face sempre que somos alvo de agressão de quem deveria estar a nosso lado.

»Talvez eu ache que, afinal, não sou tão macho quanto aparento  e precise de ir roubar um pouco da macheza a gajos masculinos, assim como tu, » disse Armindo, escorregando pela cama, «e tornar-me num masculinófago.», continuou, enquanto me mordia a nuca e, depois de me puxar para si pela cintura, encolherando-se. «Mas é que nem penses, estou exausto. Agora não há nada para ninguém», concluiu, depois do seu braço roçar-me a erecção.


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