quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

B Bar (intro #2)

Armindo foi o principal impulsionador da abertura do B., depois de uma curta mas intensa estada em Barcelona na companhia de Alberto, amigo desde a frequência da escola secundária e que o tempo e a cumplicidade tornaram mais irmão do que o verdadeiro. Era a primeira vez que estavam na cidade condal, onde tiveram a cortesia de serem guiados por Nacho e Joseba, um casal que mantinha uma relação aberta, que, depois de trocarem uma série de mensagens através do programa de conversação de um site gay, deram-lhe guarida e levaram-nos a conhecer a vida nocturna; durante três noites pouco repouso tiveram. 

Quando chegaram a Lisboa, no início da tarde de segunda-feira, Armindo, aproveitando o facto de ser feriado, obrigou um Alberto exausto e ensonado a apanhar um táxi de Santa Apolónia para o Princípe Real, onde passaram o resto da tarde a calcorrear todas as perpendiculares à rua da Escola Politécnica e, depois, a esquadrinhar todas as travessas. Já com os pés doridos, Alberto pediu tréguas à inquietude caminhante de Armindo e, tirando uma garrafa de água quase vazia da mochila, sentou-se num degrau da porta do que fora um restaurante, perguntando, depois de dessedentar a sede que lhe encortiçava a boca, mas que raio andamos a fazer às voltas pelo Príncipe Real, ainda por cima numa tarde de segunda-feira e, como se isso só por si só não fosse suficiente mau, antes do sol se pôr. Foi então que Armindo lhe disse que não precisavam de andar mais: momentos antes, olhando para uma das janelas, viu que o antigo restaurante estava para arrendar. Ainda sem perceber nada, Alberto chegou a pensar que o consumo etílico durante as três noites de Barcelona continuariam a fazer efeito no cérebro de Armindo, mas a suspeita esfumou-se ao ver-lhe o entusiasmo nos olhos enquanto falava sobre o projecto de  abrir um bar e de como aquele imóvel seria perfeito.

O único bar de Lisboa em que Armindo alguma vez se sentira confortável havia encerrado há quase um ano, depois de a Câmara Municipal ter obrigado a fazer obras na estrutura do edifício, obras que entretanto se encontravam embargadas. Não era nada de especial; antes pelo contrário: não passava de um local escuro, sem decoração e com música sofrível, umas estafadas e deprimentes festas de mensagens e um patético espectáculo de strip masculino, mas que, de acordo com Armindo, valia ouro por causa da clientela que abominava bichas tiquentas, griffadas, brasonadas, perfumadas, musculadas. Nacho e Joseba haviam levado Armindo e Alberto a um bar que barrava, inclemente e inapelavelmente, a entrada todo este tipo de fauna e não era por isso que estava às moscas.

Armindo contou-me tudo isto na primeira noite que passámos juntos. Oferecendo o peito à minha cabeça e pondo-me na boca de vez em quando o cigarro que fumava, falou-me, com a sua voz ora terna ora viril, de que a viagem a Barcelona foi o gatilho para a decisão de se despedir do departamento comercial de um diário e apostar tudo na abertura do B, explicando que o b em B. Bar significava bear, um fenómeno alternativo de uma já sub-cultura homossexual que dá primazia à masculinidade e não à juventude e à beleza calibrada em ginásios, tendo surgido nos Estados Unidos como reacção ao facto de na altura um homossexual só poder ser entendido como um homem emasculinizado. 


2 comentários:

  1. Agora já há em Lisboa dois bares, ou melhor, três bares de "bears", o que é bom, para uma cidade com uma quantidade de locais gay proporcional à sua fama como cidade destino para a comunidade LGBT.
    Também tive pena do fecho do bar que referes, pois concordando com as limitações que lhe atribuis foi um marco na diferenciação do estereotipo de bares gays até então existentes.

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  2. sim, João Carlos, embora esteja em reclusão provinciana há quase um ano, tenho-me mantido a par da oferta. O woof e o 3 ainda cheguei a conhecer

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